Para desfazer um lar
é preciso usar o tear,
puxar os fios com capricho
para descoser as tramas do tecido,
tricotar afetuosamente o reverso.
Só os insensíveis fazem movimentos bruscos.
Aos poucos, despe-se o amor
de suas vestes imperiais,
até que reste nua, a essência.
E se não for amor o que restar,
existem as malas e as portas.
E depois do luto, o sol.
Não é fácil dividir as xícaras
dos nossos cafés,
as taças de vinho ainda marcadas,
os discos que eram nossa trilha,
os lençóis onde desejos foram urgentes,
as fotos das viagens e as risadas
que não conseguimos editar na memória.
Visto o fraque do noivo ao avesso.
O sentimento vai se puindo com os dias
e se não for amor o que restar,
existem as malas e as portas.
E depois do luto, o sol.