sábado, 14 de dezembro de 2013

RSA

Metal, vidro ou papel?
Orgânico ou seco?
Tóxico ou reciclável?
Bem embrulhado
no saco plástico do supermercado
em qual lixo eu
jogo meu amor?

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Nota oficial


Não tenho vocação para a felicidade.
Há tristezas tão belas,
E o belo justifica-se por si.
Prefiro o instante sublime
à assustadora eternidade.
Tudo tem seu tempo.
É preciso aceitar que o tempo de algumas
Coisas e sentimentos
Foi ontem.
Gosto de despedidas,
ainda que às vezes doa não termos
Vivido tudo o que poderíamos.
A história vira memória ao amanhecer.
O casamento é o epílogo da paixão.
A monogamia é uma violência.
Sempre tentei ser leal a mim,
Nem sempre consegui.
Todo mundo mente,
E as mentiras pra mim mesmo são as principais.
Sou um canalha romântico
Amo sobre todas as coisas a minha liberdade.
E a liberdade anda presa à solidão.

domingo, 1 de setembro de 2013

Pra seu governo


O medo me governa.
Bravo, escrevo.
Peça vã de resistência.
A inveja me governa,
reconheço que almejo
mais do deveria
o que vejo
atiça minha cobiça.
A vaidade não vai
fica à distância

segura da humildade.
A ira não me governa.
Nem a gula,
Nem a preguiça,
Nem a avareza.
A luxúria, com certeza.
Sendo claro:
Meu pau me governa.
Sou bicho, talvez
Diga você.
Você me desgoverna.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Nos conformes

Mais que conformidade,
o amor exige conformação.
O que é bem diferente de conformismo.
E dá um certo conforto.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Suaves prestações

Eu cometeria suicídio
uma vez por dia,
cada vez que dissesse a verdade.
Covarde que sou, escolhi a morte
parcelada
em cigarros e mentiras
e em viver sem poesia.

O anjo pousado sobre meu ombro direito
me sopra que é melhor assim, buscar
a poesia é a maior das ilusões.
Ela é sempre fugidia.
A vida é mais reta - ele diz.
Mas o demônio no ombro esquerdo insiste...

quinta-feira, 4 de julho de 2013

domingo, 30 de junho de 2013

Adulto


O que eu quis era grande.
Mas eu cresci e me tornei menor.
Fui desistindo de mim.
Eu nunca hei de ser.

domingo, 23 de junho de 2013

As coisas serão eu

Essas tantas coisas que te dou,
essas coisas serão eu.

Sempre tive a sensação de que vou
embora cedo.

Não chega a ser pressentimento.
Pode ser uma vontade.  

Que faz feliz


Era chuva que escorria
no vidro.
Parecia lágrima, deveria
ser.
Não há registro de choro
eu procuro a dor
pra parar de doer.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Por isso, pra sempre

Somos amigos -
melhores amigos! -
Amigos coloridos
amantes, clandestinos, cúmplices
íntimos, escondidos.
Apaixonados contidos,
descompromissados contínuos.
Somos a soma de tudo isso,
temos o que há de mais parecido
com o que se chama amor.
E por ser apenas semelhante
somos o durante.
Este preciso instante
pra toda a vida.

Cabeceira

A blusa semi aberta e atirada
sobre o sofá,
(nunca soubemos esperar),
a meia taça derramada,
a luz que ficou acesa na sala
e é preciso voltar
para fazer a música parar
(já faz tanto tempo).

Eu não quero sair daqui
nem quando o sol
passar pela cortina
(sempre esquecemos de fechar).
Não quero levantar o lençol,
por nenhuma outra razão que não
seja te roubar um beijo de bom dia
(e pedir um sorriso de resgate).

Decreta que amanhã é feriado,
dia de viver como você sonha
(e isso dá muito trabalho).
Eu vou passar as horas
brincando com teu cabelo
mergulhando em teu cheiro
como quem se enreda num livro.
(teu corpo é o meu livro favorito).

sábado, 1 de junho de 2013

Alvura

Lavo a dor da vida
na pedra áspera da poesia.
Esfrego bem, com mãos firmes,
dispenso amaciantes e canduras.
Enxáguo esticando os braços
sob o véu da cachoeira
e deixo secar ao sol na margem do rio.
Visto sem passar a camisa branca
e a calça pouco mais desbotada
e me dou conta que não era
nos bolsos que eu guardava
o meu pesar.
Trabalho em vão.
Nem roupa, nem alma
sangram.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Foli(n)ão


Se eu fosse solteiro, jovem, bonito; 
se eu ainda conseguisse beber cerveja em quantidades industriais; 
se eu me permitisse ser tomado por súbita e idiotizante euforia; 
se eu gostasse de sol, calor e multidão; 
se eu gostasse de música ruim; então
talvez - e só talvez -
eu gostasse de carnaval.
A fantasia não cabe em mim.  
 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

E Se Não For Amor O Que Restar


Para desfazer um lar
é preciso usar o tear,
puxar os fios com capricho
para descoser as tramas do tecido,
tricotar afetuosamente o reverso. 
Só os insensíveis fazem movimentos bruscos.
Aos poucos, despe-se o amor
de suas vestes imperiais,
até que reste nua, a essência.
E se não for amor o que restar,
existem as malas e as portas.
E depois do luto, o sol.

Não é fácil dividir as xícaras
dos nossos cafés,
as taças de vinho ainda marcadas,
os discos que eram nossa trilha,
os lençóis onde desejos foram urgentes,
as fotos das viagens e as risadas
que não conseguimos editar na memória. 
Visto o fraque do noivo ao avesso.
O sentimento vai se puindo com os dias
e se não for amor o que restar,
existem as malas e as portas.
E depois do luto, o sol.