quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

As estradas sadias

Você deve ser mais feliz
seguindo a trilha natural que sai do seu jardim.
Meu caminho é mais torto.
Invejo estradas largas e sadias,
mas não posso me queixar:
tive muitos amores e
chorei muitas vezes de dor
e desentendimento.
Amar é deixar ir.
As memórias são mais sólidas e perenes
do que as realidades.
Guardo a sensação do que penso
ser amor.
Você foi o grande amor
daquela minha vida.
Foi eterno.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A visita

Recebi tua visita esta noite,
suntuosa e delicada
em um balé flutuante.
Nada será como antes –
eu já não sou.
Eu vou em círculos andantes,
o que quero talvez ainda seja o mesmo,
mas é outra a coreografia dos meus movimentos.


Recebi tua visita esta noite,
emocionante e distante,
como melodia celta.
O quer que seja, seja bela –
eu já não sou.
Talvez um mero errante,
passo por casas, templos, ruínas,
mas estou sempre pelas ruas.

Quantas luas tem o meu céu?

Sobre a noite de ontem, sobre o dia de amanhã

O corpo satisfeito
no meu peito,
o prazer molhado
nas pernas,
nos pêlos,
nos lábios.
O cabelo preto
no ombro nu,
a voz no ouvido,
suspiro
a vez de nós dois,
agora e não depois,
você não tem mais hora
pra ir embora.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Ela

Ela é todas as folhas avermelhadas do outono.
Perfeita demais para o sonho
que venho tendo a vida inteira.
O mundo ficou bonito
na vitrine dos seus olhos de gata.
Tudo se tornou possível quando a abracei
e me senti em casa.
Ela mudou para sempre o que sou
e o que serei:
livre de mim mesmo,
fiz-me dela.

Eu deixei

Fugiu ao controle,
saiu dos planos,
traiu a palavra,
não fez o combinado.

Caiu da cama,
rolou pelo quarto
está na sala
querendo ganhar a rua.

A história está no que omito.
É só isso, repito e minto.
Mas a verdade é que já faz tempo
que eu deixei de não te amar.

domingo, 20 de dezembro de 2009

O amor

Love is all. O amor é tudo. E muito mais! Ou menos. O amor é mais ou menos. O amor não é isso tudo. O amor é uma lenda. O amor é compra e venda. O amor é troca. O amor é uma ilusão. O amor é a verdade. O amor é o caminho. O amor é a solução. O amor é carinho. O amor é compreensão. O amor é paixão. O amor é fogo. O amor é foda. O amor é sexo. O amor é uma droga. O amor é rock’n’roll. O amor é a musa. O amor é música. O amor liberta. O amor cura. O amor eleva. O amor salva. O amor é cruz. O amor é credo. O amor é fé. O amor fere. O amor vicia. O amor mata. O amor é vida. O amor é ferida (que dói e não se sangra). O amor é samba. O amor é luz. O amor é vaga-lume. O amor é perfume. O amor não é ciúme. O amor une. O amor é luxo. O amor é fofo. O amor é bobo. O amor é cego. Surdo, mudo, burro e tetraplégico. O amor é humor. O humor é incorreto. O amor é certo. O amor não é reto. O amor é curva. O amor é sol. O amor é chuva. E neve. O amor é leve. O amor é breve. O amor redime. O amor é sublime. O amor é o paraíso. O amor é um inferno. O inferno são os outros. O amor é o céu. O amor é o chão. Mas se houver posse, o amor é parede. O amor é o teto. O amor é o limite. O amor não tem limite. O amor não há quem imite. Nem na China, nem no Paraguai. O amor é Paris. O amor é o Rio de Janeiro. O amor é Veneza. O amor é beleza. O amor é lindo (O que mata é a...). O amor é eterno. O amor é infinito (Enquanto dura, todo mundo sabe). O amor a tudo vence. Eu amo. All you need is love.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Presença

Acreditei em mãos entrelaçadas.
Eu estava errado.
Mãos espalmadas são o amor.
Separadas, postas
lado a lado, de onde tudo
parte em entrega
sem esperar retorno.
E onde, sem esperas,
o que chega é bem-vindo.
Estar inteiro sempre,
sem precisar de nada.
Apenas querendo.
Sabe amar quem vive bem
sem amor.
Aqui estão minhas mãos,
aqui estão meus olhos,
meus gestos e eu.
Amor é silêncio.

Mel

Sol sobre soturno
dia
derrete o favo dos olhos
até o mel.
Eu que não como doce
me lambuzo
nadando em suas piscinas.
Não há bóias, escadas
ou salva-vidas.
Não há o que salvar.
Há o mergulho.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Nas nuvens

Cabeça nas nuvens
pés no chão
tornam-me longo demais,
vasto demais,
vago demais.

Dentre minhas opções eu fico
com os pés nas nuvens
e a cabeça perdida nalguma estrela.
Eu serei mais feliz assim, livre
do futuro.
O que temos afinal?
O chão é varrido,
as nuvens viram chuva
e as estrelas todas caem.

Dentre minhas opções eu fico
com a que você me deixa, a única:
solidão.
Você é muito pra mim.
Vasta demais,
vaga demais.
Tento, mas não te alcanço.
Pés no chão,
pés no chão.
Teus pés, onde estou.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Guardar

Eu fiz o que pude,
mas creio que não foi o bastante.
Eu não fiz o meu melhor.
Quis, insisti e quase aflito,
beirei o limite da inconveniência.
Então esta é uma canção de desculpas
por minhas faltas e excessos.

Já foi uma canção de desejo
e receio que será pra sempre.
Também foi uma canção desesperada
em meio a vinte poemas de amor.

Esta não é uma canção de despedida.
Mas é canção de desistência.
Toque de retirada
por tantas batalhas perdidas.
É uma canção de declínio,
discreto recolhimento
até o silêncio.
Estou tentando aprender
que é melhor assim:

apenas guardar você em mim.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Diariamente

Sua presença é faca.
Punhal cravado que me impede de sangrar
para um dia talvez cicatrizar.

Eu te perco diariamente
e repito incessantemente os votos,
dor e desejo renovados.

Mesmo sem o sabor da novidade
a cada dia fica mais difícil
resistir, decidir, partir

e simplesmente te perder de uma vez.





trilha sonora sugerida: Aerosmith

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sugestão

O amor justifica tudo.
Verso que abre o poema
e encerra o discurso.
O amor justifica até rimas em ão,
desde que venham do coração.
O amor justifica nossos atos,
garante a vitória da coragem
sobre o medo.
Amor é companhia de viagem
e ao mesmo tempo é casa
sempre com cheiro de nova.
Meu corpo é a casa do teu.

A volta do filho pródigo

O diabo me protegeu com seu abraço,
rugiu suave, morno e com alívio.
O bom filho à casa torna.
Eu tentei ser bom,
mas caí mais que três vezes.

Deus me deu a maldição do desejo
mais que a graça do talento.
Desisti de tentar ser quem não sou.
Você esperava demais de mim.
Eu também.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Qualquer dia

Não diga quando,
não marque hora
não escolha lugar.
Deixe rolar,
a gente vai se encontrar
num fim de tarde,
num fim de noite
um começo de tudo
numa esquina qualquer.
Se for pra dar
ou pra fazer amor,
tanto faz
eu topo os dois,
eu quero é mais!
Deixe rolar
leve, lindo
breve e findo.
Qualquer dia,
um dia,
todo seu.

Verborragia

Meu verso me trai,
me entrega de bandeja.
Meu verbo sai,
escapa pela soleira.
Meu livro se abre
e na página que cai
é declaração.

Eu declaro que não,
nego que sim –
tudo em vão.
Pra quem leu uma só frase
está claro:
desejo.