domingo, 29 de agosto de 2010

A chegada

Os carros passam
os caras comentam
as meninas invejam

Os carros diminuem
os caras despertam
as meninas detestam

Os carros buzinam
os caras assobiam
as meninas resmungam

Os carros param
os caras olham
as meninas fulminam

Os carros freiam
os caras festejam
as meninas fazem cara feia

Os carros batem
os caras babam
as meninas beliscam

Eu sorrio
você ajeita o cabelo
e me dá a mão pra atravessar a rua.

sábado, 21 de agosto de 2010

Estar onde estou

O avesso da ressaca é o êxtase.
Estar onde estou agora.
Sem hora de ir embora,
sem pegar trânsito
para sair do transe.
Eu quero ficar no que há
de sublime no ar.
O momento quente
congelado no tempo.
Você me dá um doce,
pedaço de paraíso torto.
Não saio daqui nem morto.
O avesso da morte é o amor.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ventura

Se por ventura, tivermos tempo, será na sexta.
Se por vontade, tivermos hora, será melhor.
Se por verdade, sentirmos desejo, nos tocaremos.
Se por virtude, formos justos, ficaremos juntos.
Se por vaidade, nos evitarmos, perderemos.
Se por vício, mentirmos, repetiremos o erro.
Se por veleidade, nos beijarmos, nos encontraremos.
Se por sorte nos acharmos, permaneceremos.
Se por acaso, tivermos chance, aproveitaremos.

domingo, 15 de agosto de 2010

Nunca seja minha

Não seja nada
além do que é.

Guardo o que admiro,
não o que possuo.

Nunca seja minha.
eu te perderia.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Zelo

Cuidado.
Precaução, prevenção.
Prudência, zelo.
Medo.
É assim que escovo o pêlo
do que sinto,
com receio de que se desprenda
da língua
e escorra pelos seios
até que toque o chão e role
como pérola
de colar partido.
Eu não suportaria me despir de você.
No entanto, o que tenho
já está perdido.