quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Vernissage

Eu estava sem fazer nada de meia-noite às seis e resolvi criar mais um blog, o Galeria Wirz, dedicado exclusivamente a fotos. Quem me conhece, sabe que eu me amarro em andar por aí com uma câmera a tiracolo e o olhar atento.

Sou amador. Olho, enquadro e clico. Modo automático. Raramente dou uma editada no Photoshop.

Minha mãe, super suspeita, elogia sempre. Sabe como é mãe, né?

Eu poderia usar o Flickr, ou o Picasa ou whatever. Mas achei mais prático esse blogspot, onde já edito este mar de coisa e o blog de poemas que leva o meu nome.

Então, é isso, sirva-se uma taça de prosecco, e venha. A Galeria está de portas abertas para você em http://www.galeriawirz.blogspot.com/

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Humano

Quero cortar o cordão que me prende ao passado.
Sair do meu universo umbigo,
dar dois passos para frente com as pernas firmes
antes de cair outra vez e sempre
por culpa do amor,
do meu jeito errado de ser
entregue, aberto e rasgado.
Eu quero ser bicho, organismo vivo
sem consciência da finitude,
sem culpa, pudor e religião.
Encontrar o humano em mim,
no outro e no mundo que corre ruas simples,
as muitas ruas curvas de mãos duplas.
Encontrar o semelhante além do espelho,
enxergar mais do que vejo
e amenizar a dor infinita que é viver.
Sempre dói. Nunca passa.
Qual o sentido de tudo?
Não há resposta que não seja lição.
"Estou você pra qualquer coisa. Pra vida."
Ele me disse
antes que eu desabasse.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A obra elaborada

O pior cego é o surdo.
Sempre contra a lucidez geral
e insensível aos alertas.
A realidade deve adequar-se a sua estratégia
e as pessoas aos seus sonhos.
Desconhece a liberdade
e despreza o improviso.
Faz o seu movimento no tabuleiro
e não espera resposta:
tenta jogar pelo outro.
É um déspota!
Distorce os fatos, discorda
das vozes em bom som.
Recusa a dinâmica,
a inevitável instabilidade
de tudo que pulsa.
Mantém-se inflexível
e segue esmurrando as facas,
caprichando longamente
na construção do próprio fracasso.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Pode

Pede que eu atendo
Fala que eu compreendo
Segue que eu recomendo
Começa que eu emendo.

Deita, eu faço cafuné
Acorda, já passo o café
Tenta que eu boto fé
Confia que já é.

Toca a música, eu danço
Dê trabalho, não me canso
Vem aflita que estou manso
em plumas e penas de ganso.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Causa mortis

Todos da minha família morrem de câncer.
Eu fumo. Eu vou morrer de câncer.
Ou antes disso, atropelado.
Ou do coração.
Ou de sífilis.
Não, ninguém morre mais de sífilis.
Mas de Aids. Aids ainda mata.
(Eu uso preservativo.)
De tuberculose morriam poetas de outro século.
Neste, morre-se de overdose
de informação ou excesso de velocidade.
Pode ser que uma bala perdida
me tire a vida.
Ou o amor!
Isso, vou morrer de amor.
Amor é legal.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Depois da lua de mel

Aqui não
Ali não
Opa, aí não
Assim não
Isso não
Agora não
Hoje não
...
Com você não.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A trama

Narciso convidou Schopenhauer
para jantar.
Tramaram matar
o Superego de Freud.
Não conseguiram.
Mas ok, fizeram sexo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Monte

Ganhei uma Mont Blanc.
O que escrever, que seja
à altura da pena?
à altura do mont(e), do cume?
Casamento, testamento,
escritura,
atestado, certificado, fórmula?
Meu nome?
Seu nome?
O nome da rosa
o Eco escreveu.
Sei
que a página não pode ficar
assim, este monte
em branco.
É preciso escrever.
Uma história.
(A minha?!)
Um poema.
Uma palavra.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Neons

Neons n'água, mais nada
nessa noite de asfalto molhado.
Meu coração sampleia
o mar de acordes,
eu nado em névoas.
Meu sonho mora e morre
na chuva na janela,
quando tudo é só
uma gota.
Lágrimas minhas e suas,
mentiras nunca ficam nuas
em dias de sol.
As luas revelam o que eu quis esconder:
o mal que sua ausência me faz
é muito mais profundo e forte
do que sou capaz de derrotar.