sábado, 31 de julho de 2010

Tarde

Eu lamento as palavras
que escolhi.
As mais certas
eram as que não foram
ditas.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Quem tem

Só acredito que você virá quando entrar.
Aprendi com tuas faltas a esperar menos.
E amar sem esperar é ainda mais generoso.

Amor desesperançado,
desiludido, realista, imperfeito.
O melhor que há, o mais verdadeiro.
Quem tem menos a perder tem mais a dar.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Da solidão desta noite - I

A voz de veludo líquido
não mata a sede,
é verde musgo na parede,
é a saudade dela,
é a chuva na janela da casa
no cair da tarde cinza,
no amor grená.
É o verso que ainda virá
do amor que se deseja.
Eu amo você
seja quem for que seja.

domingo, 25 de julho de 2010

(des)Perfeição

O sangue pinga
sobre o vidro
e escorre lento
como me sento
recostado à parede.
Como eu me sinto,
quem sabe?
Quem liga
o alarme,
o telefone?
Nem sequer uma carta
sob a porta.
Apenas letras mortas
as leis, as juras que fizemos,
as sepulturas que se visitam
uma vez por ano.

Passei tantos anos
tentando destruir a perfeição
que, enfim, consegui.
Entre flores eu sou tão pálido,
envelhecido, amarelado,
páginas de livro
sem final feliz.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Que seja o amor

Que seja a certeza
a razão,
que seja a confiança
na intenção,
que seja a segurança
da união.

Que seja a graça
do nosso humor,
que seja o riso
em nossas bocas,
que seja a diversão
em nossa rotina.


Que seja a companhia
para os momentos,
que seja o dia-a-dia
ao longo da vida,
que seja o abraço
em todas as horas.

Que seja a cumplicidade
nos pensamentos,
que seja a afinidade
dos sentimentos,
que seja a intimidade
da nudez.

Que seja o desejo
este insaciável,
que seja a sintonia
no prazer
que seja a alegria
das descobertas.

Que seja o apoio
para as escolhas,
que seja a saudade
para a ausência,
que seja o incentivo
para o caminho.

Que seja o amor
a tua iniciativa
Que seja a vida
a tua opção
Que seja para ficar
a tua vinda.

domingo, 18 de julho de 2010

Eu volto pra sempre

Eu achei que não fosse,
mas voltei,
não consegui evitar
o retorno ao porto do meu lar.
A diferença é que você
não estava lá pra me abraçar.
O vento é o ar
que não pára no mesmo lugar.
Eu voltei à mesma página
onde paramos de ler.
Eu voltei a te escrever.
A diferença é que você
não vai me responder.
A casa estava lá abandonada,
minha asa agora quebrada
e você, onde é que está?
Eu vou ficar,
eu vou te esperar na nossa cama
enquanto a grama cresce ao redor
e o sol faz mudar a cor da terra.
E você, por que não me espera?
Se eu volto sempre
ao mesmo lugar,
se eu venho pra sempre
te encontrar.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Hora certa

Se tivéssemos nos conhecido antes
Já estaríamos perto do fim.
Prefiro assim: sermos o durante.

domingo, 11 de julho de 2010

Ela (não) quer

Eu anuncio o começo,
lhe abro o caminho
estendo o tapete
mas ela antevê o tropeço.
E entre as dúzias de rosas
ela enxerga só o espinho
e ouve o falsete, o mínimo
desafino da canção.
Ela se prende ao deslize,
se agarra ao fio da esperança
da contradição.
Negar a vontade é negar-se,
É querer ser o que hoje não.
Melhor não.

Onde pulsa desejo, ela projeta culpa.
Eu rejeito a renúncia
cada defeito é tão meu como
cada virtude
Eu sou assim, sou a sina,
a verdade pura do corpo é luxúria
- delito, febre, loucura -
mas ela não quer perder a razão.
Melhor não.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O fio

Não acho o começo do poema
nem o caminho de casa.
O fio da meada
pode estar no verso da moeda,
mas não é preciso renunciar à coroa.
Basta seguir o rastilho do pavio,
o rastro do animal no cio,
a corrente do rio.
Basta escolher andar
no fio da navalha,
por qualquer trilha,
porque todos os caminhos
levam ao amor ou
qualquer coisa que o valha.