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domingo, 30 de dezembro de 2012

Inércia Morna


A lua cheia clareia a noite
em que mortes, nascimentos,
separações, casamentos,
brigas, trepadas
seguem acontecendo como se
outro mundo não houvesse.
Ilumina a varanda
e por um instante
eu me sinto em um quadro de Edward Hopper.
A mesma solidão, o mesmo vazio.

Mas na inércia morna desta noite
o que existe mesmo é a vontade
de ser outro e estar com você.
Eu só tenho esta vida e falhei
na poética missão
de transformar o meu lixo em arte.
Ainda estão aqui ao meu lado
o copo de Cinzano que meu pai esvaziou
e sonhos batidos como cinzas
do cigarro no canto da minha boca.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Até que esta dor

Não me dêem morfina
nem chocolate
nem crédito sem limite.
Nenhum medicamento
anestesia ou ilusão..
Não quero nem o abrigo
de um bom livro
ou a música que chama pra dançar.
Nem mesmo um afago,
um abraço solidário,
nenhuma palavra de conforto.
Me dê o silêncio.
A solidão.
Vou ficar exatamente aqui
até esta dor
virar menta.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

My way



Almoçarei sozinho aos domingos:
filé ao ponto para bem, com guarnição à francesa
e duas cervejas
no restaurante de sempre,
onde os garçons já me conhecem pelo nome.
Voltarei a pé para casa
e assistirei sem muito entusiasmo
ao jogo do Flamengo na TV.
Ou a algum filme no cinema perto,
se estiver disposto.
Mais tarde, lerei um pouco, navegarei
pela vida alheia nas redes sociais
e deitarei, depois de ouvir “My way”,
sem que o telefone tenha tocado sequer uma vez,
sem ter trocado palavra com ninguém
que não sejam os porteiros, os vendedores e os garçons.
E serão só eles que, em um domingo qualquer,
notarão que eu não fui mais.

sábado, 14 de janeiro de 2012

O dom da dor




Nem que eu deite a cabeça em seu colo
Nem que eu chore no seu ombro
Nem que você me dê seu sorriso mais lindo
Nem que você me abrace até estalar a coluna
Nem que você diga o quanto me ama
Nada pode diminuir esta solidão.


Nem que a casa esteja cheia de gente
Nem que a música esteja no máximo
Nem que a festa vá até de manhã
Nem que você me devore com a vontade
dos desejos urgentes
Nada pode diminuir esta solidão.


Nem o vento minuano refresca
o abafado desta noite avessa.
Hoje, a noite é não.
Completamente.
Sou o leão. Sou a jaula.
O domador. A dor.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Companhias



Domingo de manhã no calçadão,
os homens com seus cachorros,
as mulheres com seus filhos,
as crianças com seus brinquedos,
as enfermeiras com seus idosos,
e eu
nem comigo.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Os mesmos olhos

o que sou não
tenho sido.
este que estou sendo
é o que não está
no reflexo do espelho.
este que não está se vendo
permaneceria
invisível ainda que tingisse
o corpo de vermelho vivo.




sobre meus olhos ela diz
que são os mesmos há vinte anos
e eles nada dizem.
ocultam.
são tão somente águas
turvas de raso escuro rio.
quebrei o espelho da alma.
sou bom nisso:
dissimular.
sou
solidão e superfície.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Estio

Semente no estio
aguardo tua chuva
promessa de colheita
na próxima estação.


Corpo vazio
à margem do olhar
que reacende lareira
remota no coração.


Quero teu cio
como quem espera
o sol queimar
no alto verão.


Sigo vadio
ruas meio escuras
não pelo lado selvagem,
mas ao lado da solidão.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Da solidão desta noite - I

A voz de veludo líquido
não mata a sede,
é verde musgo na parede,
é a saudade dela,
é a chuva na janela da casa
no cair da tarde cinza,
no amor grená.
É o verso que ainda virá
do amor que se deseja.
Eu amo você
seja quem for que seja.