sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Guardar

Eu fiz o que pude,
mas creio que não foi o bastante.
Eu não fiz o meu melhor.
Quis, insisti e quase aflito,
beirei o limite da inconveniência.
Então esta é uma canção de desculpas
por minhas faltas e excessos.


Já foi uma canção de desejo
e receio que será pra sempre.
Também foi uma canção desesperada
em meio a vinte poemas de amor.


Esta não é uma canção de despedida.
Mas é canção de desistência.
Toque de retirada
por tantas batalhas perdidas.
É uma canção de declínio,
discreto recolhimento
até o silêncio.
Estou tentando aprender
que é melhor assim:

apenas guardar você em mim.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A volta do filho pródigo

O diabo me protegeu com seu abraço,
rugiu suave, morno e com alívio.
O bom filho à casa torna.
Eu tentei ser bom,
mas caí mais que três vezes.



Deus me deu a maldição do desejo
mais que a graça do talento.
Desisti de tentar ser quem não sou.
Você esperava demais de mim.
Eu também.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Estio

Semente no estio
aguardo tua chuva
promessa de colheita
na próxima estação.


Corpo vazio
à margem do olhar
que reacende lareira
remota no coração.


Quero teu cio
como quem espera
o sol queimar
no alto verão.


Sigo vadio
ruas meio escuras
não pelo lado selvagem,
mas ao lado da solidão.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Dance

A noite acesa em
sons e cores,
efêmeros odores
e amores.
Lindas louras e sexys
gays dançam
na minha frente
indecentes incandescentes
roçando corpos quentes
na minha perna, nos meus dentes.
Eu não tenho mais libido
para acompanhar o seu ritmo.



A melhor maneira de conhecer
alguém é à meia-luz.
Não se revele
não me descubra
deixa que eu te invente
nova e novamente
dançando rente
ao meu corpo, ao meu
inconsciente.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

não há

na minha vida redonda sem aresta
que roda feliz na faixa
não há porta, janela ou fresta
por onde ouvir o que você me diz em baixa
voz de vermelho veludo.
não há espaço para tanto,
não dá para ser essa festa
não há sequer um canto
livre onde caiba
pouco, muito ou tudo.



mas o desejo insiste bandido
com uma tapa na testa
que não dá
pra ignorar
e você me provoca
roça enquanto dança
e beija na boca.
e evoca o melhor
do pior que há em mim,
se houvesse algum mal.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Mulher Invisível

O que sei sobre ela
é quase
nada.

Só o que está ao alcance
dos olhos e,
quisera eu,
dos outros sentidos.

Olhos verdes,
cabelos castanhos,
pele branca,
corpo bem desenhado
sob a estampa do vestido.

Esmalte escuro nas unhas bem feitas
dos dedos que seguram o cigarro.

“O essencial é invisível aos olhos” -

está anunciado em francês
como enigma
na tatuagem em torno do seu braço.