terça-feira, 28 de junho de 2011

Nada

Poesia não é andar de bicicleta.
Desaprendi,
se soube um dia.
Talvez seja porque passei dos quarenta
ou esteja feliz.
Talvez seja porque tenha desaprendido a viver
e não morra mais de amores.
Por nada, talvez.
A poesia se foi.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Matutino

Um gole e quero ficar
assistindo aos absurdos
que a fumaça do cigarro faz
livre, livre, solta no ar.
Sinto que agora tenho mais calma,
experimento a paz pela primeira vez.
Tenho a sensação de que acabei de sair do banho,
tenho os cabelos mais curtos,
visto uma larga camisa branca
e minha voz soa clara
sem tantos nós.
Vejo a vida com olhos de manhã.
Estou livre, livre, solto no ar
para ser belo,
ser o que quero
e desenhar absurdos que me façam feliz.
Tenho a mim mesmo,
não estou só.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Demônios lúdicos

Foto: Leandro Wirz



Disputam assento sobre meus ombros
e já perdi a conta de quantos são.
Brinco com eles – ou talvez o inverso –
como se fossem meus soldados de chumbo
da infância feliz.
Meus demônios lúdicos
adoram se apaixonar e atirar-se em precipícios,
gostam de farras, de prazeres à meia-luz,
e de meias-verdades.
Gostam de velocidade, de jogos de sedução,
de usar as palavras afiadas como lâminas
e de cuspir nos outros sua arrogância.
São todos muito vaidosos e se mantém vermelhos
sob o sol, com tridentes a postos
para espetar, furar e esgarçar
sentimentos.
E inventam de escrever poemas
e evitar a poesia da vida.