quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A traição da memória

No velho cartão amarelado
deveria estar escrita sua promessa
de amor eterno.
Na foto envelhecida
você deveria estar ao meu lado.
Essa sua ausência gritante
é mais forte e duradoura
do que poderia ser a mais imponente
presença.
O vazio nos dita.
O vazio define a minha história,
determinada não tanto por aquilo que fiz,
mas por aquilo que entre meus dedos
derramou-se ao longo do tempo.

O que me resta é apenas uma narrativa
borrada pelas deformações da própria memória.
Esta é mais terrível das solidões.
Não conto com ninguém, nem comigo mesmo.
Avanço em quartos escuros
reminiscências esfumaçadas
palavras pastosas em bocas de não sei quem
Tropeço em pontos cegos,
embaralho pessoas, tempos, gestos
Como se os escaninhos perdessem as divisórias
e tudo fosse uma imensa teia melada
na qual deslizo como num sonho
ou a própria realidade.
A mesma história antiga se repete diversas vezes
E nunca é da mesma maneira.
A cabeça é um cão infiel.

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