sábado, 20 de setembro de 2008

Memória das árvores

Ilha Grande. Foto: Leandro Wirz


Tenho tudo gravado na memória das árvores.
Desde os banhos ao ar livre no quintal,
as corridas ao redor da velha mangueira,
os aromas do jasmim,
até tua nudez sem culpas,
os rituais de provocação,
o cheiro do teu corpo suado.
Estava tudo guardado nos grossos troncos marrons,
no espesso verde, no sereno, no silêncio.
Então teus olhos puxados rasgaram a luz
como estiletes talhando a madeira
fazendo escorrer a seiva.
O que há de mais puro
que o desejo,
que o pecado?


Ao fim da estação, as amendoeiras
jogam as páginas da história ao chão
e qualquer passante vulgar pisa.
Meu corpo agora é assim. Tapete.
E os inevitáveis amores errados foram
aos poucos puindo seus fios, puindo, puindo.
Outono é minha estação favorita.
Está chegando o meu tempo.
Tudo bem. Está tudo guardado na memória das árvores.

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